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Arquivos mensais: Março 2011

Jair Bolsonaro – Ele não está sozinho, nós também não.


Os juízes da normalidade estão presentes em todos os lugares. Nós vivemos na sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz, do ‘trabalhador social’-juiz.

Michel Foucault

 

A primeira coisa que senti após saber da declaração do deputado no CQC foi revolta. Revolta, mas não surpresa. Bolsonaro é mais do que apenas uma representação de valores conservadores. Ele é a própria incorporação desses valores. Ele não é burro, nem ignorante, nem falta a ele a educação formal de quem estudou em “boas escolas”. Ele vê, sente, percebe e se posiciona em relação a realidade daquela forma. Uma forma de colocar-se no mundo. É um modo de vida .E se ele é assim, muitas outras pessoas também são. E foram essas pessoas que votaram nele, que o escolheram para defender esses valores.

Esse homem apenas empresta seu rosto, sua voz, seus gestos, suas palavras para esses valores e às pessoas que os vivenciam. Essas mesmas pessoas terão filhos, os educarão e darão continuidade a essa forma de olhar o mundo – é claro que alguns desses filhos conseguirão produzir outras maneiras de viver suas vidas, afinal os seres humanos não são meros depósitos de idéias.

Acho que todas as medidas de repúdio ao que ele expressou devem ser tomadas, mas ainda que ocorra alguma punição não devemos esquecer que há pessoas que votaram nele e que votarão novamente. E elas têm esse direito. Tem direito de não aceitarem que existam valores diferentes dos delas, mas tem que aprender que tais valores são tão legítimos quanto. Não podem se considerar no direito de dizer como alguém deve viver suas vidas. Há limites entre discordar e discriminar.

E acho que aí que está a questão. Ele pode ser enquadrado na lei de discriminação racial porque o racismo é crime e pode levar a prisão. E é disso que ele está com medo, de ser punido por essa lei. No caso da homofobia tal lei não existe e como ele mesmo disse está “se lixando” para os homossexuais. Acho que nesse momento, seria importante que todos – homens, mulheres, gays, héteros, negros, brancos – que se sentiram humilhados, revoltados ou incomodados com a fala do deputado se posicionem e mostrem que há pessoas que pensam de outra maneira, que vivem de outra maneira, que olham e sentem o mundo de outra maneira.

E completando o trecho de Foucault desta vez encontramos o deputado-juiz.

 

Texto foi escrito por Maycon Benedito, colaborador do Blog Subvertendo Convenções
Formado em Psicologia. O contato dele é: maycon_benedito@hotmail.com

 
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Publicado por em 31 de Março de 2011 em Discriminação, Política

 

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Deputado Federal Jean Wyllys sofre ameaças de morte por lutar pela causa Gay

Meu comentário: Enquanto isso, fanáticos religiosos e fundamentalistas de direita tentam fazer as pessoas acreditarem que homofobia é algo quase que irreal e um projeto de lei especifico para casos assim desnecessária.

Jean Wyllys: “A injúria nunca desaparece na vida de um homossexual”

Deputado federal fala a QUEM sobre as ameaças de morte que recebeu pela internet

onofre veras/agnews

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) relatou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ter sofrido ameaças de morte por meio de sua página no Twitter e de seu blog na internet. A denúncia foi feita na reunião da comissão na quarta-feira (23).

Em entrevista a QUEM, nesta quinta-feira (24), de seu gabinete em Brasília, Jean afirmou que as agressões, feitas entre sexta-feira (18) e sábado (19), tinham conteúdo homofóbico e são de autoria de grupos de extremistas religiosos. Nos próximos dias ele apresentará um dossiê à polícia.

“Quanto mais público torno isso, mais protegido estarei. As pessoas de bem da sociedade têm que tomar partido. Não vou deixar de caminhar em Copacabana, ir à padaria comprar meu pão”, disse ele.

A principal plataforma do jornalista, gay assumido, que participou da quinta edição do “Big Brother Brasil”, é uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza o casamento civil entre homossexuais.

O deputado anunciou, em primeira mão, que essa causa será reforçada por uma campanha com artistas, que deverá começar em meados de abril. Jean também é parte da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênero), que será lançada na Câmara na terça-feira (29).

QUEM: Qual era o conteúdo dessas injúrias?
JW: Uma dizia: ‘Aviso que não saia de casa, porque você pode não voltar’. No sábado (19), recebi outra ameaça, pelo meu site: ‘Não vou lhe matar, não preciso, porque todo viado nojento morre de AIDS’. Outras usavam o nome de Deus. Eram injúrias muito violentas, odiosas e constrangedoras, calcadas na homofobia.

QUEM: Como reagiu?
JW: Levei um baque e respondi de imediato no Twitter: ‘Fanáticos religiosos estão me ameaçando de morte. Qualquer coisa que aconteça comigo, direta ou diretamente, as pessoas serão responsabilizadas e principalmente os mentores dessas pessoas’. Daí, me bloquearam e não pude mais responder àqueles perfis. Um quarto perfil escreveu: ‘Se esse país se respeitasse, sua cabeça e de seus iguais estariam penduradas no poste’. Intensificaram-se os ataques violentos a mim em blogs de líderes religiosos fanáticos. Começou uma campanha para me transformar em inimigo da comunidade cristã e não em inimigo da intolerância, como sempre fui.

QUEM: Tomou algum cuidado no seu dia a dia, passou a andar com seguranças particulares?
JW: Não pedi seguranças e nem pedirei. Isso mostraria que estou intimidado. Decidi trazer isso a público porque quero deixar claro que há um movimento para me silenciar, me neutralizar aqui dentro (na Câmara). Há uma ação orquestrada de líderes religiosos para me silenciar.

QUEM: Está com medo?
JW: Ler essas agressões dá uma dor profunda. Dói pensar que alguém nutre ódio por você. E ainda mais em nome de um Deus que deveria ser um Deus de amor. Essas agressões têm efeito amedrontador, mas me fortalecem. Não vou dar uma de durão. Isso me dói e num primeiro momento me desestabiliza, mas reacende a chama dentro de mim de que estou no caminho certo.

QUEM: Como sua família reagiu?
JW:
Minha mãe e meu irmão ficaram muito assustados, pois leram sobre as ameaças na internet. Eles me ligaram imediatamente. Eu pedi para que não se preocupassem, pois nada vai acontecer.

QUEM: O que te dá essa certeza, Jean?
JW:
Nada. Mas tenho certeza de que quanto mais público torno isso, mais protegido estarei. As pessoas de bem da sociedade têm que tomar partido. Não vou deixar de caminhar em Copacabana, ir à padaria comprar meu pão.

QUEM: Já procurou a polícia?
JW:
Estamos preparando um dossiê, imprimindo todos os ataques. Vou encaminhar uma cópia a Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) (presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara) para que ela leve ao Presidente da Câmara (Marco Maia PT-RS). Nos próximos dias, vou encaminhar à delegacia de crimes virtuais.

QUEM: Antes de virar deputado, você já havia sofrido tamanha demonstração de homofobia?
JW:
A homofobia é algo que acompanha o gay desde muito cedo. A primeira vez que sofri uma injúria foi aos 6 anos. Morava na periferia de Alagoinhas, na Bahia. Minha mãe me deu dinheiro para que eu comprasse pão na venda. Estendi a mão sobre o balcão e pedi seis pães. Falei com a concordância correta e o homem me perguntou: ‘Você é viado ou estudado?’. Todos riram e fiquei muito constrangido, voltei para casa tremendo. Foi a primeira vez que ouvi palavra ‘viado’ e percebi pelas risadas que ‘viado’ era algo que eu não deveria ser, que não era certo. Aos 12 anos, ainda em Alagoinhas, estava indo vender algodão doce e um cara me deu um murro. Eu sempre tive esse jeito, era um menino delicado. Fui conquistando meu espaço à custa de muita informação. A injúria é um horizonte que nunca desaparece na vida de um homossexual. Fico feliz de a novela das 8 (“Insensato Coração”) colocar a homofobia como marketing social.

QUEM: Como está articulando a aprovação do casamento civil entre homossexuais?
JW:
Convidei as duas deputadas que conseguiram a aprovação do projeto de lei na Argentina que garantiu o casamento civil e também o vereador Pedro Zerolo, da Espanha, para uma grande campanha que meu gabinete está articulando. Está rolando em paralelo ao meu PEC um movimento da sociedade civil para uma campanha de artistas favoráveis ao casamento civil homossexual. Convidamos grandes artistas – homo e heterossexuais – para se juntar à causa, pois isso funcionou muito bem na Argentina. Wagner Moura já se colocou à disposição. Quero convidar Adriana Calcanhotto e Susana Moraes, pois as admiro, embora respeite a discrição delas. Chamarei também os casais André Piva e Carlos Tufvesson e Bruno Chateaubriand e André Ramos. Tem gente do primeiro time da Globo. Quando levantarmos fundos, vamos gravar uma campanha de TV, internet e fazer camisetas. Vamos soltar isso em meados de abril.

 
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Publicado por em 24 de Março de 2011 em Homo/Bissexualidade

 

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Márcio Retamero: Ensino religioso no Brasil, a quem interessa?

Por  A Capa

Márcio Retamero: Ensino religioso no Brasil, a quem interessa?

O ensino religioso no Brasil é instituído por lei. O artigo 33 da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 com redação dada pela Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997, que assim legisla:

Art.33° – O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1° – Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.
§ 2° – Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição do ensino religioso.

Novidade alguma no Brasil, a lei é ambígua e dá margens para acontecer o que vem acontecendo há muito entre nós: as aulas de religião nas escolas públicas de ensino fundamental são aulas de catecismo cristão ou catecumenato.

Os Conselhos Estaduais de Educação, formados em sua esmagadora maioria por cristãos católicos ou protestantes, são os grandes responsáveis por tornarem o ensino religioso em nossas escolas públicas, aulas de religião cristã, com classes divididas entre católicos e protestantes.

Ficam de fora todas as outras religiões que compõem o caldo cultural brasileiro, principalmente as religiões de “matriz afro”, sem contar as outras. Isso torna-se visível, inclusive no crucifixo pregado na parede da sala de aula ou na imagem de santos e santas espalhadas pelos corredores das nossas escola públicas.

Ministrei aulas durante anos em estabelecimentos de ensino público e jamais vi a imagem de um orixá nesses espaços, tampouco o Alcorão em lugar de destaque ou quaisquer outros símbolos religiosos que não fossem do cristianismo.

É correto dizer que a presença nas aulas de religião em nossas escolas é facultativa e não obrigatória e nos meus anos de magistério vi muitos alunos e alunas indo para a sala de leitura durante essas aulas, pois nada tinha com a fé que professavam as cores preto e branco do ensino religioso ainda ministrado no país. Kardecistas, candomblecistas, umbandistas, adventistas, dentre outros, pelo conteúdo programático de tais aulas, são excluídos.

É inegável: as aulas de ensino religioso em nosso país é confessional cristão de matriz, o que é ainda pior, fundamentalista. Portanto, o artigo 33 da Lei 9.475 é cotidianamente desrespeitado pelo poder público que gerencia tais escolas já que em primeiro lugar, não assegura a diversidade religiosa do Brasil, e em segundo lugar, não veda o proselitismo religioso dentro de nossas escolas pertencentes ao Estado que é, ou deveria ser, laico.

Quanto ao conteúdo programático e a constatação do fundamentalismo religioso como matriz das vertentes religiosas contempladas, para se constatar o fato, é obrigatória, principalmente pelos secretários de educação dos estados que compõem a federação brasileira, bem como pelos demais profissionais da área de educação e que trabalham em escolas públicas, o recente livro lançado no dia 22 de junho de 2010: “Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil”, estudo liderado pela professora Débora Diniz (foto acima) da Universidade de Brasília (UNB).

Uma das conclusões do estudo é algo que já poderíamos intuir: o ensino religioso no Brasil dissemina (“oficialmente”, o que é pior) o preconceito e a intolerância. A antropóloga e professora Débora Diniz, em recente matéria publicada no portal UOL sobre o assunto, declarou: “O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de catecismo cristão em sala de aula são uma constante nas publicações”, ou seja, nos livros didáticos adotados para este ensino.

O estudo publicado analisou 25 livros didáticos adotados pelo ensino religioso nas escolas públicas do nosso país. Assim ficou constatado e provado, certas coisas como a predominância de Jesus em relação a outros líderes espirituais da humanidade, o tratamento da homossexualidade (homossexualismo nos livros) como doença, perversão, mau moral, desvio de conduta, a associação entre ateísmo e nazismo etc.

Sou contrário ao ensino religioso nas escolas públicas bem como a exposição de imagens e símbolos religiosos nos espaços públicos, na minha opinião, isso fere a laicidade do Estado; contudo, creio ser praticamente impossível mudar este quadro no momento histórico que vivemos – assalto à máquina estatal do fundamentalismo religioso, barganha dos presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra com evangélicos fundamentalistas etc. – no entanto, urge o debate em torno do tema na sociedade com o objetivo de mudar o rumo do ensino religioso no Brasil ou a sua extinção.

O ensino religioso nas escolas públicas brasileiras só seria legítimo se o conteúdo programático promovesse a dignidade da pessoa humana, se refletisse realmente a diversidade religiosa do Brasil, se ministrasse conteúdos como a história das religiões sem maniqueísmo, a ética, a liberdade de escolha em matéria religiosa, inclusive a de não professar nenhuma religião.

Do jeito que está o ensino religioso – promotor de preconceitos e homofobia, além de ser proselitista – em nada contribui para a formação das nossas crianças, ao invés, produz fundamentalistas religiosos em progressão geométrica.

O processo de laicização do Estado brasileiro nunca chegará a termo se não mudarmos profundamente o rumo do nosso barco. A pergunta urge: a quem interessa este tipo de ensino religioso no Brasil? Vamos continuar de boca fechada?

* Márcio Retamero, 36 anos, é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói. É pastor da Comunidade Betel/ICM RJ e da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo. É autor de “O Banquete dos Excluídos” e “Pode a Bíblia Incluir?”, ambos publicados pela Editora Metanoia. E-mail: marcio.retamero@gmail.com.

 
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Publicado por em 24 de Março de 2011 em Política, Reflexões, Religião, Sexualidade

 

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Justiça nega pedido de policial gay expulso para voltar a curso de tenente

Por A Capa

Justiça nega pedido de policial gay expulso para voltar a curso de tenente

Foi negado pela Justiça o pedido de defesa do PM Cláudio Rogério Rodrigues de voltar a frequentar o curso de formação para tenentes da Academia da Polícia Militar do Barro Branco, da qual o PM foi expulso por ser homossexual.

Cláudio Rogério trabalhava como cabo desde 2002 e entrou para Academia Barro Branco, na zona norte de São Paulo, em 2009. Após uma investigação da academia, o policial militar foi chamado em abril para responder questões sobre sua orientação sexual. Meses depois, o PM foi expulso por “motivos sigilosos”.

No documento em que nega sua volta, o juiz e relator do processo, Corrêa Viana, afirma que os argumentos dos relatores e as razões que levaram o PM à expulsão ficaram “bastante claras”.

O advogado de Cláudio Rogério tem até dez dias para recorrer após a notificação da decisão judicial. Ao portal “R7”, a polícia militar afirmou em comunicado que agiu com rigor em decorrência da omissão de informações do PM durante o processo de seleção do curso. “A conduta é um aspecto fundamental para que tenhamos bons quadros e evitar problemas graves ao cidadão”, diz a nota.

Veja abaixo o vídeo com a reportagem do “Jornal da Record”:
http://noticias.r7.com/videos/pm-e-negado-em-corporacao-por-suspeita-de-ser-homossexual/idmedia/a3d42198b8c246407ebb92b35bb74ff5.html

 
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Publicado por em 24 de Março de 2011 em Homo/Bissexualidade

 

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RELACIONAMENTO ABERTO: compromisso sem exclusividade


Para a relação funcionar é preciso um acordo mútuo e muito diálogo

Muita gente insiste em dizer que não existe mais amor de verdade, que as pessoas não querem se comprometer e que, por isso, muita gente está insatisfeita com os relacionamentos amorosos. O que acontece de fato é que as pessoas têm mais liberdade para assumir comportamentos, enquanto há algumas décadas eram totalmente condenadas por optar pela separação, por relações extraconjugais ou relacionamentos mais livres, em que ambos podem ter uma vida social, sexual e até amorosa fora do casamento.

Hoje, entretanto, há mais pessoas tentando esse tipo de relação amorosa conhecido como relacionamento aberto, em que os parceiros têm a liberdade de sair com outras pessoas e relacionarem-se sexualmente e até amorosamente com elas, neste caso poliamor – uma das variações do relacionamento aberto. A psicanalista Regina Navarro, em seu livro “A Cama na Varanda”, observa que as pessoas não têm mais que se adaptar a modelos impostos de fora, e então, cada vez mais abrindo um espaço onde novas formas de viver, assim como novas sensações, podem ser experimentadas. Os filósofos Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, um dos casais mais célebres da História, viveram um relacionamento assim, que durou 50 anos. Essa liberdade era exercida mediante um pacto, no qual eles contavam os detalhes de suas aventuras amorosas um para o outro.

Casal - Foto: Getty Images

Mulheres Vs. Homens?

Não é à toa que muita gente é totalmente contra esse tipo de “acordo”. Uma das razões é explicada pela biologia. A mulher tem um repertório de gametas sexuais formado desde o nascimento, que amadurecem na primeira menstruação. A partir daí, ela libera um óvulo por mês. Isso tende a fazer com que ela se comporte de uma maneira mais seletiva do que o homem, que tem todos os espermatozoides renovados a cada 32 horas. Ou seja, isso explica em partes porque os homens, muitas vezes, priorizam a quantidade de parceiras, enquanto as mulheres procuram relacionamentos mais duradouros. Mas essa é apenas uma parte da questão, tendo em vista que a maneira como somos educados e as nossas escolhas também têm grande influência nos relacionamentos amorosos.

Entretanto, independentemente do fator fisiológico, a vontade de variar existe. A maioria de nós já sentiu vontade de viver uma relação com alguém que lhe agradou, não importando se ama outra pessoa. O fisiologista de comportamento da Unifesp, Ricardo Monezzi explica que a partir dessa ideia, sai o conceito de fidelidade, como exclusividade sexual, e entra com maior importância e força o conceito de lealdade, que envolve a sinceridade e o companheirismo. Uma das ideias expostas por Regina Navarro é que os mais variados aspectos podem provocar o desejo, mas somos historicamente limitados pela ideia de exclusividade sexual.

Amor sem pronomes possessivos
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O casal Heloísa Fernandes e Pedro Mascarenhas mantêm um relacionamento aberto há oito meses. Antes disso, nenhum dos dois tinha vivido nenhuma experiência assim. “Sempre senti que um relacionamento aberto era a melhor solução, mas não tinha coragem para assumir algo assim. Posso sair com outras pessoas quando quero, mas tenho um forte compromisso em não deixar o Pedro de lado. Procuramos nos ver com frequência e até hoje nenhum relacionamento que tivemos interferiu negativamente no nosso”, conta Heloísa. Para Heloísa, esse modelo combina com a concepção que ela tem sobre o amor: “nos amamos de verdade e acredito que o amor de fato só existe quando o outro é livre para escolher. Quem ama não quer o outro como sua posse, ou como a satisfação de suas idealizações. Quem ama quer o outro livre e feliz”, conta a estudante. “Nossos pais não sabem disso. Prefiro não dizer ainda, pois é algo que, provavelmente, eles entenderiam como promiscuidade”, conta ela.

Casal - Foto: Getty Images

Pedro, no começo, temeu entrar nesse tipo de relação e acha que o acordo deve ser bem conversado: “com certeza um relacionamento aberto não é oposto à responsabilidade. Acredito que em um relacionamento responsável são indispensáveis a comunicação, a confiança e a sinceridade. Só assim é possível amar sem porém, incorporando tudo o que de bom e o que de ruim um relacionamento oferece – inclusive a satisfação sexual”, diz ele, que tem 21 anos. Entretanto, ele não considera adequado o modelo do poliamor, pois acha que o amor é uma construção, que demanda tempo e dedicação.

João Lestrange, professor, tem um relacionamento aberto com Gustavo Molina Turra há quatro anos. Hoje, os dois moram juntos e só adotaram o relacionamento aberto depois de um ano de namoro. “Ficamos com outras pessoas, mas não há envolvimento sentimental. Sempre procuramos contar sobre os outros relacionamentos um para o outro e nos amamos de verdade”, conta João. Nem tudo são rosas, no entanto. João não obteve aprovação da mãe, mas seguiu nesse modelo, pois acredita que é mais feliz assim, desde que tudo seja bem conversado.

Para quem diz não
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Muitas pessoas têm simpatia pela ideia do relacionamento aberto, mas sentem que não conseguirão viver felizes dessa forma. “Quando há dúvida e ciúmes, investir nesse tipo de relação não trará a menor satisfação”, diz Ricardo Monezzi. Portanto, ceder a um relacionamento aberto só porque você se apaixonou por alguém que quer exercitar esse modelo pode trazer uma enorme frustração. Se alguém tem outros relacionamentos às custas da mágoa do companheiro pode ter certeza de que não estamos falando de um relacionamento. “Tudo deve ser uma escolha consciente, tendo em vista que envolve aspectos muito sérios, da vida amorosa de cada um”, diz Ricardo.
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Fonte: Minha Vida

 
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Publicado por em 20 de Março de 2011 em Sexualidade

 

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